Todos nós aprendemos na escola que
existem dois tipos de ligações químicas: a ligação iônica, na qual dois átomos
com desequilíbrio elétrico são mantidos juntos por foças de Coulomb, e a
ligação covalente, na qual átomos compartilham um elétron de sua última camada.
Isso pode mudar.
Usando programas de computador para
simular o comportamento da molécula de hidrogênio (H2) em um campo
magnético forte, Kai Lange, Trygve Helgaker e alguns colegas da Universidade de
Oslo, na Noruega, descobriram uma terceira ligação química, que só aconteceria
em campos magnéticos muito fortes, do tipo que, na natureza, só poderiam ser
encontrados em estrelas anãs brancas, magnetares e estrelas de nêutrons.
A equipe do prof. Lange examinou como
o estado de energia mais baixo de uma molécula de hidrogênio era distorcido por
um campo magnético. A molécula, com formato de um haltere, orienta-se em
paralelo à direção do campo magnético, e a ligação se torna mais curta e mais
estável. Quando um dos elétrons recebe um fóton de energia e vai para outro
nível, o que normalmente iria romper a ligação, a molécula simplesmente gira de
forma a ficar perpendicular ao campo e permanecer unida, formando a “ligação paramagnética
perpendicular”.
Efeito semelhante provavelmente deve
ocorrer com átomos de hélio, que normalmente não formam ligação nenhuma.
Segundo o professor Helgaker, os átomos são mantidos unidos pela forma que seus
elétrons dançam em torno das linhas de campo magnético. Dependendo da sua
geometria, a molécula iria girar de forma a permitir que os elétrons girem em
torno da direção do campo magnético.
Por enquanto esta nova ligação não
pode ser testada em laboratório, já que se trata de um campo magnético de 105
Tesla, 10.000 vezes mais fortes que qualquer campo magnético artificial já
feito na Terra. Só para comparar, o campo magnético terrestre tem intensidade
média de 40×10-6 Tesla (40 micro Tesla), um humilde ímã de geladeira
tem 5×10-3 Tesla (5 mili Tesla), e o Grande Colisor de Hádrons tem
bobinas capazes de gerar campos magnéticos com pouco mais de 8 Tesla. Em
laboratórios que estudam o campo magnético, já se conseguiu campos de 30 a 40
Tesla. Além disso, um campo magnético com tanta intensidade iria destruir a
máquina. Ou seja, a máquina para criar o campo magnético deixaria de ser uma
máquina.
Mas se não dá para fazer um campo
magnético tão forte, existe outra alternativa para testar a teoria em
laboratório: usar átomos de Rydberg, átomos altamente excitados que podem ser
do tamanho de um ponto da letra “i”. Como o tamanho da ligação entre estes
átomos é muito grande, a interação de Coulomb é muito menor, e eles talvez
possam ser usados para testar a hipótese. E, se estes átomos de Rydberg forem
utilizados para guardar informação em um computador quântico, por exemplo, um
campo magnético poderia ser utilizado para controlar a força da ligação entre
eles.
Só que os pesquisadores também não têm
certeza se esta ligação existe na natureza. Os campos magnéticos de anãs
brancas, por exemplo, poderiam abrigar este tipo de ligação, mas isso não é
conclusivo. Uma das maneiras de descobrir isto é usar modelos de física
quântica para determinar como o espectro luminoso emitido por átomos envolvidos
neste tipo de ligação seria modificado, e procurar por esta assinatura
espectral na luz destas estrelas.[PhysicsWorld, PopSci, DailyMail, Nature]
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